segunda-feira, maio 25, 2009

Socialismo ou barbárie



VALTON DE MIRANDA LEITÃO

A expressão de Rosa Luxemburgo durante a revolução alemã de 1918, agora com o colapso do capitalismo, ganha novo ímpeto. O sistema do capital que abriu e expandiu todas as fronteiras da humanidade, escrevendo uma grandiosa página da história, atualmente entra na sua fase de produção destrutiva. Marx havia previsto que no apogeu a produção capitalista seria autofágica e, portanto, se auto-anularia.

O mundo assiste estupefato ao grande colapso que ameaça a economia mundial, destruindo a natureza com o aquecimento global e aprofundando a desumanização das relações entre as pessoas. As mercadorias-fetiche neste tipo de produção se caracterizam por três componentes fundamentais: aparência, inutilidade e magia do produto. Quando o objeto não preenche tais requisitos é jogado fora. Daí as montanhas de carros e de aparelhos de toda espécie amontoados no lixão das grandes cidades. A água do subsolo e os mares vão sendo contaminados por substâncias venenosas, enquanto o burguês de oitenta quilos passeia num automóvel que pesa quase três toneladas.

A irracionalidade deste sistema de relações de produção modificou a personalidade do ser humano para torná-la extremamente individualista, imediatista e, portanto, com pouca ou nenhuma preocupação sócio-comunitária. O homem consumidor é formatado pelos meios de comunicação para admirar o objeto fetiche e, principalmente não pensar. O seu aparelho mental diante da imagem publicitária e do enfrentamento na luta pela sobrevivência não tem espaço para a memória familiar, a tradição e a verdadeira beleza. A palavra como instrumento de comunicação afetiva entre os humanos vai sendo substituída pela profusão de imagens, cujo único objetivo é vender para o consumidor que perdeu a cabeça.

As crianças “educadas” pela publicidade devem ser condicionadas para se tornarem consumidores irrefletidos e compulsivos. O corpo humano é atacado pelos alimentos da produção destrutiva e, depois é tratado pela medicina do sistema médico destruidor que Michael Moore denuncia no país locomotiva desta loucura global. Presentemente, depois da grande ascensão denominada globalização, assistimos a queda do gigante mitológico de “Cem braços”. Noutro artigo, afirmei que o colossal “Cem braços” estava de joelhos e moribundo, enquanto os grandes pensadores e cientistas do sistema do capital tentavam injetar em cada uma das veias dos seus muitos braços ouro derretido, retirado das barras dos tesouros nacionais para tentar reanimar a criatura. A banca financeira que recebe os trilhões continua fraudando e mentindo, pois é da sua natureza fazê-lo, enquanto o gigante não dá sinais de recuperação.
O nome pode ser recessão, depressão, mas é evidente que colapso diz mais da globalidade da queda. Os componentes objetivos e subjetivos que acompanham esta decomposição do sistema do capital podem ser vistos na sociedade, na cultura, mas igualmente na mente individual e na mentalidade coletiva. Massas humanas desempregadas e desnorteadas começam a vagar sem rumo em todos os países, enquanto o domínio fetichista da personalidade incrementa o surgimento de indivíduos robotizados, burocráticos e com capacidade afetiva claramente diminuída. Outro dia, alguém me disse que um rapazola na sua casa, disse diante do pai: “ontem fui a uma festa e ´fiquei´ com umas vinte meninas!”. O pai respondeu, divertido, mas ironicamente: “então nenhuma delas apreciou teus abraços e beijos”.

A mulher com quem o garoto deseja “ficar” é um objeto-fetiche, tal como o celular ou a roupa de grife. A gravidade deste processo não se reduz simplesmente a patologia compulsiva do consumo, mas principalmente a expansão de certas formas características de doença mental. O sexo sem erotismo se resume a uma descarga, pois a inexistência de conexão amorosa impulsiona o indivíduo para um agir tresloucado. O homem fálico dom-ruanesco, coleciona mulheres vazias, enquanto as mulheres buscam desesperadamente um companheiro que não encontram. Tal é a sociocultural da superfície na qual a profundidade desapareceu.

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