domingo, abril 25, 2010

Soneto da Indignação












Caíque Vieira

Em uma encruzilhada, num sinal,
Havia uma menininha andrajosa
Em seu olhar, tristeza sem igual
Em sua mãozinha, trazia uma rosa.

Pergunto-lhe, curioso, o seu nome
E, qual punhal que fundo em mim enterra,
Baixinho, ela murmura: “estou com fome”!
"Meu Deus"! Meu coração sensível berra.

Evoco o mal que esse sistema encerra:
Em que meandros se encontra a ética
Ao abandonar ser tão indefeso?

O que está encoberto ninguém descerra
E segue o homem sua vida frenética
Indiferente e em seu egoísmo preso.

quarta-feira, abril 21, 2010

Hai-kais oportunos

Brasília-50 anos

A genuína filha
da ousadia, seu esplendor
todo agora brilha.


Lula

Trigo de um povo
cujo joio é a elite.
Prenúncio do novo.


Presidente

Que não se discuta
esse atributo da Dilma:
é ministra arguta.


FHC

Redivivo o corvo !
Eu que pensei nunca mais
nunca mais o estorvo.


Presidengue

Serra, o candidato,
como ministro infectou
o Rio em um ato.


Caíque Vieira

segunda-feira, abril 19, 2010

Venezuela: um compromisso histórico com a transformação

Neste 10 de abril, os venezuelanos e as venezuelanas comemoramos o bicentenário de um processo de emancipação que, numa primeira instância, atingiu a independência. Há 200 anos, em meio à comoção originada pelo avanço de Napoleão sobre a Espanha, um movimento popular deu os primeiros passos para a consolidação da independência venezuelana e da América Latina, formando junta de governo que não reconheceu a autoridade do capitão-geral.
Maximilien Arvelaiz
Não era ainda uma independência, mas trazia as sementes de algo maior: um verdadeiro processo de transformação social amplamente estendido, inspirado no pensamento republicano da época, que exigia igualdade social e participação de todos os cidadãos.
Alguns historiadores afirmam que a revolução independentista da América hispânica só visava uma mudança no mando entre dois grupos dominantes. O que aconteceu na Venezuela, naquele abril de 1810, colocou a América hispânica na vanguarda da construção social.
Exemplo da profundidade do avanço foi a permissão, na Junta Suprema, de representação dos pardos e do direito para votar a todos os setores, incluindo os não alfabetizados.
Além disso, a Sociedade Patriótica, que teve um papel importante no movimento de emancipação, permitia a presença de mulheres nas deliberações. Também iniciou abertura para a educação universitária, acabando com a restrição para os que não tinham linhagem espanhola e comprometeu seu Congresso com a criação de uma Constituição democrática.
Depois de anos de acertos e de erros, de lutas fratricidas e da penetração do capital com exploração estrangeira, esse espírito de transformação social e de inclusão de 1810 foi retomado por nosso povo.
Hoje, a Venezuela resgata e define seu caráter participativo, colocado na Constituição Bolivariana de 1999 e reafirmado no dia 13 de abril de 2002 através de uma sublevação popular que acabou com a tentativa de golpe de Estado com intuito de frear o aprofundamento de nossa democracia.
O povo venezuelano hoje conta com maiores espaços de participação, tais como conselhos comunais, onde o poder de decisão sobre temas vitais está nas mãos das comunidades. Conta, igualmente, com uma Constituição forte, que garante o direito de todos os cidadãos, incluindo os que historicamente têm sido contrários a ela.
Dispõe de mecanismos de participação popular, como o referendo, que tem permitido a remoção de funcionários públicos ineficientes e que tem resultado na aprovação de Emendas Constitucionais.
Conquistou ampla liberdade de expressão com a democratização do espaço radioelétrico, que acabou com os monopólios e permitiu o nascimento da mídia comunitária.
O povo do país impulsiona o processo de democratização dos recursos do petróleo, traduzido em programas sociais de alfabetização, de medicina geral e integral comunitária, de vacinação massiva, na produção e venda de alimentos, no apoio esportivo e cultural, dentre outras iniciativas.
Alcançou a democratização do conhecimento, aumentando o ingresso de estudantes na educação superior e adotando políticas benéficas, como a produção massiva de livros com custos baixos ou gratuitos. A democracia participativa promovida pelo socialismo bolivariano não só amplia os direitos dos cidadãos, mas os convida a serem corresponsáveis no exercício do poder. Recentemente, a oposição venezuelana tentou desprestigiar a gestão do presidente Hugo Chávez quando o acusou de perseguir os opositores.
Mas são eles os irresponsáveis que atentam contra o caráter institucional e a estabilidade do Estado e que têm sido investigados por outros poderes públicos, não pelo Executivo.
A Revolução Bolivariana pôde resgatar o caráter institucional que a oposição ousada tentou eliminar com um decreto. Essa oposição é comprometida com seus privilégios e tenta manter as exclusões sociais intensificadas no final do século 20.
No entanto, hoje o espaço de debate e participação é maior, permite canalizar qualquer descontentamento e reivindicação. O povo venezuelano conhece essas intenções, por isso valoriza seus direitos e deveres e quer viver em harmonia, não na incerteza gerada por aventureiros que ainda não entenderam o compromisso histórico com uma real democracia.
Hoje, 200 anos após o início da revolução, podemos dizer, com muito orgulho, que a Venezuela não só atingiu a independência, mas também consolida sua democracia participativa, seguindo a senda aberta em 1810.

segunda-feira, abril 12, 2010

Soneto para um bravo guerreiro

Caíque Vieira

Se os olhos alimentam a inveja
Que tem nosso majestoso oceano,
Pela turquesa que neles flameja,
Comete o velho mar um tolo engano

Porque há ainda muito mais beleza
Do que seu olhar azul e galhardo
- Reflexo de virtuosa natureza -
Na impoluta bravura do Leonardo.

É a inteligência arguta e sagaz
Que se sobressai em primeiro plano
Mas é a coragem que em sua alma traz

Meu irmão, aguerrido veterano,
Que me comove e me admira mais,
Ao enfrentar seu pâncreas ora insano.

quarta-feira, abril 07, 2010

A mídia e suas damas contra Cuba

Na ânsia por virar a página da pré-história da Humanidade, há homens e mulheres que têm se dedicado a fortalecer os laços de solidariedade, coletivismo, justiça e amizade, dando o melhor de si para construir relações mais harmoniosas de convivência entre países e povos.

João Felício e Rosane Bertotti

Na linha de frente dessa caminhada, há um país e um povo que têm se esmerado por fazer valer este compromisso, conduzindo a bandeira da liberdade, da igualdade e da fraternidade com invulgar determinação. Em que pesem as tremendas atrocidades a que ambos – país e povo - vêm sendo vitimados pela – ainda - principal potência do planeta e seu bloqueio criminoso, Cuba exibe as mais altas taxas de educação, saúde e segurança pública do planeta.

Desde a revolução de 1º de janeiro de 1959, o povo cubano tem dado mostras de sua lealdade aos princípios, de sua inflexão frente à injustiça e de seu compromisso com a verdade. O que não quer dizer, obviamente, infalibilidade nem algo que se aproxime de uma “sociedade perfeita”. Como toda obra humana, a revolução cubana tem suas imperfeições e são os próprios cubanos, na busca incessante pela superação, os mais críticos e auto-críticos.

Para não nos estender, lembramos dos milhares de cubanos que entregaram generosamente sua vida no combate ao apartheid, lutando ombro a ombro com as tropas angolanas contra os racistas sul-africanos; dos milhares de médicos que, superando os profissionais das próprias Nações Unidas, brindam generosamente seu apoio em todos os rincões do planeta, inclusive no Brasil; do atendimento gratuito a dezenas de milhares de vítimas da tragédia de Chernobyl; dos professores que ajudaram a fazer da Bolívia e da Venezuela, assim como a própria Ilha Caribenha, territórios livres do analfabetismo; sem falar nas dezenas de milhares de alunos que acolhem dos países mais pobres da América – inclusive dos próprios EUA – que se formaram nas universidades cubanas em medicina e outras profissões essenciais para a defesa da vida.

A mesma mídia que desconhece tais feitos de um processo tão generoso, agora tem a pretensão de transformar o boato em fato ao promover criminosos comuns a presos políticos. Sem medidas para o seu achincalhe, os donos dos meios de comunicação utilizam-se da própria figura heróica das Mães da Praça de Maio, que combateram o bom combate contra a ditadura argentina, para, através das “Damas de Branco”, fazer um arremedo de “lutadoras pela liberdade”. Sem o menor descaramento, tais figuras, comprovadamente a soldo de governos estrangeiros, vêm sendo patrocinadas diretamente pela embaixada norte-americana, que tem inclusive participado com pessoal diplomático de tais ações de solidariedade aos seus agentes. A despeito de toda essa ajuda imperialista e de jornalistas-satélites, essa “oposição” não consegue reunir sequer mais que uma dezena em suas manifestações públicas.

No território cubano não existem presos políticos, torturas nem assassinatos, pois foi contra esta barbárie que a revolução se fez e consolidou. Os que existem e eles são muitos, estão todos localizados na Base de Guantánamo, ocupada militarmente há mais de um século pelo governo dos Estados Unidos. Alguns dos instrumentos utilizados nas masmorras para o escárnio podem ser vistos no Museu da Revolução, em Havana, que os exibe como prova de um tempo que não voltará, jamais. Assim como os mendigos pertencem a um lugar do passado, os milhões de cubanos só tomaram conhecimento de tamanhas atrocidades pelos livros didáticos.

Em Cuba, evidentemente, existem problemas, mas não estão no terreno dos direitos humanos, nem da tão propalada – e tão pouca praticada nos nossos países - liberdade de expressão. A chiadeira dos donos da mídia no Brasil contra a Conferência Nacional de Comunicação é prova disso.

Mas voltando à Ilha, é bom lembrar o grande poeta e herói da independência de Cuba, José Martí: “Os homens não podem ser mais perfeitos que o sol. O sol queima com a mesma luz que esquenta. O sol tem manchas. Os ingratos não falam mais que das manchas. Os agradecidos falam da luz”.