sábado, outubro 31, 2009

Momentos




Arte de Gilda Vieira




Pão e vinho da minha vida
Corpo e alma: minha alegria
Brava Mulher aguerrida
Gilda, é tua essa poesia:

Há instantes que na vida
tenho a fé invertida
as idéias distorcidas
tantas mágoas e feridas.

E no equilíbrio rompido
só a presença da mulher
querida me traz a fé
nessa vida sem sentido.

São momentos tão singelos
se são raros, são tão belos
pois que, como por encanto,
pra minha alma é acalanto.

Caíque Vieira

quinta-feira, outubro 29, 2009

EUA isolados na ONU

Cuba obteve hoje outra vitória política quando a Assembleia Geral da ONU aprovou por 187 votos a favor a Resolução cubana Necessidade de Por Fim ao Bloqueio Econômico, Comercial e Financeiro dos Estados Unidos contra Cuba. Somente dois países se abstiveram; e três votaram contra: EUA; seu aliado, Israel e Palau. As que se abstiveram -Micronésia e Ilhas Marshall- foram protetorados estadunidenses até os anos 90.

quarta-feira, outubro 28, 2009

Exaltação da vida







Pintura do artista plástico Clébio Carneiro.




Ponho-me quieto a admirar
serenamente o entardecer
fixo os meus olhos longe ao mar
verde, belo e insondável ser

Esmaecida no horizonte
do sol a derradeira luz
paisagem divina que é fonte
do êxtase que em mim produz

Imensidão que me fascina
e mistério que me ensina
com poesia a vida ser
vivida e deixar viver.


Caíque Vieira

sexta-feira, outubro 23, 2009

Aumento da agressividade de Washington contra a ALBA

Eric Toussaint

A agressividade dos Estados Unidos frente aos governos dos países membros da Alba (Aliança Bolivariana dos povos de Nossa América) cresce na medida em que reage ante a perda de sua influência sobre a América Latina e o Caribe em geral, atribuída, particularmente a Hugo Chávez (e a Cuba; porém, isso não é novidade).

Alguns sinais dessa perda de controle: por ocasião das negociações posteriores à agressão da Colômbia contra o Equador, no dia 1º de março de 2008, ao invés de recorrer a Organização dos Estados Americanos (OEA), da qual os Estados Unidos fazem parte, os presidentes latinoamericanos se reuniram em Santo Domingo, capital da República Dominicana, sem os grandes vizinhos do Norte, no marco do Grupo do Rio, contrariando com clareza a Colômbia, aliada dos Estados Unidos. Em 2008, Honduras, aliada tradicional e incondicional da política de Washington, uniu-se a Petrocaribe, entidade criada por iniciativa da Venezuela com a finalidade de proporcionar petróleo aos países da região não exportadores de hidrocarbonetos a um preço inferior ao do mercado mundial.

Honduras também aderiu a Alba, outra iniciativa de integração regional lançada pela Venezuela e por Cuba. Em dezembro de 2008, realizou-se em Salvador, Bahia/Brasil uma importante cúpula que reuniu a maioria dos presidentes latinoamericanos, com a presença destacada do chefe de Estado cubano, Raúl Castro, sentado ao lado de Felipe Calderón, presidente do México, que, até então, mantinha uma atitude hostil em relação a Cuba, seguindo as diretrizes de Washington. Meses mais tarde, a OEA decidia, apesar da oposição estadunidense, o reingresso de Cuba, que havia sido excluída em 1964. Em 2009, o Equador também se juntou a Alba e decidiu por fim à concessão da Base de Manta feita ao Exército dos Estados Unidos.

Desde inícios da década dos 2000, Washington tentou sistematicamente contrapor o giro à esquerda de parte dos povos da América Latina: apoio ao golpe de Estado contra Chávez, em abril de 2002; apoio financeiro massivo à oposição antichavista; sustentáculo da greve patronal venezuelana, dezembro de 2002 a janeiro de 2003; intervenção ativa do embaixador dos Estados Unidos na Bolívia, para impedir a eleição de Evo Morales; monitoramente da intervenção do Banco Mundial no Equador, em 2005, para conseguir a demissão de Rafael Correa, que, na época, era Ministro da Economia e Finanças; organização de manobras militares conjuntas no Cone Sul; reativação de sua IV Frota; grande aumento da ajuda militar a seu aliado colombiano, a quem utiliza como testa de ferro na região andina.

E para sobrepor-se ao fracasso da Alca, em novembro de 2005, a negociação e/ou a assinatura do máximo possível de Tratados de Livre Comércio bilaterais (com o Chile, Nicarágua, República Dominicana, El Salvador, Guatemala, Honduras, Costa Rica, Peru, Panamá, Colômbia, Uruguai).

A agressividade dos Estados Unidos contra o contágio chavista na América Latina subiu vários pontos em junho-julho de 2009, com o golpe de Estado-militar em Honduras, que derrocou o presidente liberal Manuel Zelaya, quando este propunha à população uma consulta sobre a convocatória a eleições por sufrágio universal de uma Assembleia Constituinte.

Se a Assembleia houvesse sido convocada, inevitavelmente teria legislado sobre uma reforma agrária que questionaria enormes privilégios dos grandes latifundiários e das transnacionais estrangeiras dos agronegócios presentes no país. Diante dessa perspectiva, a classe capitalista local, com um setor agrário muito influente, respaldou o golpe de Estado. Deve-se levar em consideração também que esta classe é uma burguesia compradora, totalmente voltado ao comércio de importação-exportação e que depende das boas relações com os Estados Unidos. Por essa razão, a burguesia hondurenha teria apoiado a assinatura de um Tratado de Livre Comércio com Washington e feito oposição a Alba.

Além disso, entre as razões que levaram a patronal hondurenha a sustentar a sustentar o golpe está o aumento do salário mínimo decretado por Manuel Zelaya. Por outro lado, sabe-se que Zelaya queria pedir a Washington a liberação da Base Aérea de Cano Soto (Palmerola), situada a menos de 100 km da capital, para transformá-la em aeroporto civil.

Evidentemente, o Pentágono não assumiu a virada para a esquerda de um presidente do qual esperava docilidade, já que, para eles, Honduras faz parte do grupo de seus subordinados na região. Imaginemos (o que é muito improvável) que os generais hondurenhos tenham atuado por iniciativa própria na aliança com a classe capitalista local, é inconcebível que Roberto Micheletti, fantoche designado pelos militares, pudesse manter-se no poder se o governo estadunidense se opusesse realmente.

Há décadas os Estados Unidos formam os militares hondurenhos; mantém uma Base em Soto cano (com 500 militares presentes continuamente); e como Hillary Clinton reconheceu depois do golpe, seu governo financiou amplamente a oposição ao presidente Zelaya. Além de tudo, suas transnacionais, especialmente as do agronegócio, estão fortemente implantadas nesse país, que consideram uma ‘república bananeira’.

Com a finalidade de incrementar sua ameaça contra a Venezuela e o Equador, Washington obteve do presidente Álvaro Uribe o anúncio, em julho de 2009, da cessão de sete bases instaladas em território colombiano para os militares estadunidenses. O curto tempo transcorrido entre o golpe militar em Honduras e o anúncio do presidente colombiano não é mera coincidência: Washington quer indicar claramente que deseja deter a expansão da Alba e eliminar o gérmen do socialismo do século XXI.

Seria irresponsável subestimar a capacidade daninha de Washington e a continuidade que tem marcado a política externa dos Estados Unidos, apesar do acesso de Barack Obama à presidência e de uma retórica mais soft. Até o momento, Washington se nega a considerar que em Honduras, no dia 28 de junho de 2009, houve um golpe de Estado. O presidente Zelaya, que regressou clandestinamente a Honduras no dia 21 de setembro de 2009 e encontrou refúgio na Embaixada do Brasil, em Tegucigalpa; os golpistas reprimem violentamente as manifestações dos seguidores do presidente constitucional e fecham os meios opositores; no dia 27 de setembro decretaram estado de sítio por 45 dias; e tudo o que o número 2 de Washington disse na OEA foi: "O retorno de Zelaya é irresponsável e idiota".

Por outro lado, H. Clinton não condenou o prolongado toque de recolher decretado por Micheletti, para evitar manifestações de apoio a Zelaya diante da embaixada do Brasil. Portanto, podemos afirmar que o governo de Obama não mostra nenhuma vontade de romper com os métodos que seus antecessores instauraram: o financiamento massivo dos diversos movimentos de oposição no marco de sua política de "reforço da democracia"; o lançamento de campanhas midiáticas de descrédito contra os governos que não partilham sua orientação (Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua, a Honduras de Zelaya...); a manutenção do bloqueio contra Cuba; o apoio aos movimentos separatistas: na Bolívia, a chamada Meia Lua boliviana, cuja capital política é a cidade de Santa Cruz de La Sierra; no Equador, a cidade de Guayaquil e sua região; na Venezuela, o Estado petroleiro de Zulia e sua capital Maracaibo; o apoio a agressões militares como a perpetrada pela Colômbia ao Equador, em março de 2008; bem como as ações de forças paramilitares na Colômbia e na Venezuela.

É evidente que a União Europeia continua uma política muito próxima a de Washington. Também durante o putsch contra Chávez, no dia 11 de abril de 2002, a União Europeia, através de José Maria Aznar, deu seu apoio aos golpistas. Em agosto de 2009, anunciou que mantém os acordos comerciais com Honduras e que não denunciará como ilegais as eleições organizadas pelos golpistas hondurenhos. Em setembro, distanciou-se mais. O diretor geral adjunto de Relações Exteriores da comissão Europeia (CE), Stefano Sannino, indicou em uma entrevista concedida a Efe que a União Europeia, como os demais países latinoamericanos, não reconhece que essas eleições possam basear-se em um contexto aberto, livre e democrático. Em matéria de negociações e de assinaturas de Tratados de livre Comércio, a União europeia é tão agressiva quanto os Estados Unidos e, inclusive, exige concessões ainda maiores do que as concedidas pelos países latinoamericanos a Washington.

quarta-feira, outubro 21, 2009

México e Cuba: preocupação ecológica










México e Cuba são as únicas nações latino-americanas incluídas na lista de honra de países que mais árvores semeiam, elaborada pelo Programa da ONU para o meio ambiente (PNUMA).
Essa relação foi divulgada aqui e está encabeçada por China, com um total de dois bilhões e 600 milhões de exemplares plantadas dentro de uma campanha que propiciou a semeadura de sete bilhões em todo mundo.
México aparece no quarto posto, com 537 milhões, e Cuba na sétima posição, com 137 milhões.
Entre os primeiros 10 lugares da lista não aparece nenhum país do mundo industrializado. Deles, Estados Unidos está situado no décimo quarto lugar.
A campanha foi lançada em 2006 com a meta inicial de 1 bilhão de árvores em resposta ao aquecimento global e os problemas vinculados à sustentabilidade do planeta, como a escassez de água e a perda de diversidade biológica.
A informação do PNUMA informa que o exemplar 1 bilhão é uma oliveira africana semeada em novembro de 2007 na Etiópia.
Um balanço com fechamento no final de setembro passado contabilizou sete bilhões 300 mil árvores em 167 países, mais de uma por habitante do planeta.
Ao destacar a importância da vegetação para a vida no planeta, a agência da ONU falou de seu papel na redução dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera.
Nesse sentido, alertou contra o crescente desmatamento e devastação de árvores que no presente destroem 13 milhões de hectares por ano, equivalentes às superfícies da Grécia ou da Nicarágua.
Os 10 países com maior riqueza florestal são a Rússia, Brasil, Canadá, Estados Unidos, China, Austrália, República Democrática do Congo, Indonésia, Peru e Índia, que em conjunto representam dois terços da superfície coberta de bosques.

domingo, outubro 18, 2009

Concepto de Revolución

“Revolución es sentido del momento histórico; es cambiar todo lo que debe ser cambiado; es igualdad y libertad plenas; es ser tratado y tratar a los demás como seres humanos; es emanciparnos por nosotros mismos y con nuestros propios esfuerzos; es desafiar poderosas fuerzas dominantes dentro y fuera del ámbito social y nacional; es defender valores en los que se cree al precio de cualquier sacrificio; es modestia, desinterés, altruismo, solidaridad y heroísmo; es luchar con audacia, inteligencia y realismo; es no mentir jamás ni violar principios éticos; es convicción profunda de que no existe fuerza en el mundo capaz de aplastar la fuerza de la verdad y las ideas. Revolución es unidad, es independencia, es luchar por nuestros sueños de justicia para Cuba y para el mundo, que es la base de nuestro patriotismo, nuestro socialismo y nuestro internacionalismo.”

Fidel Castro, Plaza de la Revolución José Martí.

Cusco, Peru


Em Cusco, capital do império Inca, segunda escala antes de Machu Picchu.
Denise, Inez, Gilda, Carlos Henrique.

sábado, outubro 17, 2009

Lima, Peru


Balcões na cidade de Lima





Em Lima, primeira escala antes de Machu Picchu.


Denise, Gilda, Inez, Carlos Henrique, Claudia e Sofia

quarta-feira, outubro 14, 2009

Pensamento

Eric Hobsbawm: uma nova igualdade depois da crise.
O objetivo de uma economia não é o ganho, mas sim o bem-estar de toda a população. O crescimento econômico não é um fim, mas um meio para dar vida a sociedades boas, humanas e justas. Não importa como chamamos os regimes que buscam essa finalidade. Importa unicamente como e com quais prioridades saberemos combinar as potencialidades do setor público e do setor privado nas nossas economias mistas. Essa é a prioridade política mais importante do século XXI.

Sim, nós podemos

Luiz Nassif - Coluna Econômica – 04/10/2009

Estava almoçando com um amigo banqueiro quando veio a notícia de que o Rio de Janeiro havia sido escolhido cidade-sede das próximas Olimpíadas. Mandou abrir um vinho em comemoração. De manhã, um funcionário dele, em Copenhagem, mandou email informando que na cidade só se falava em Lula, uma euforia completa apenas pela presença de Lula por lá.

No restaurante, as mesas comemoraram pedindo vinhos e champagnes. Nas ruas, uma população orgulhosa do feito brasileiro. No Blog, centenas de comentários de leitores orgulhosos de serem brasileiros, finalmente orgulhosos de serem brasileiros, repito.

Chego no escritório, ligo a Internet e procuro o vídeo com o discurso de Lula, defendendo a candidatura do Rio e, depois, com Lula com os olhos marejados falando de sua maior especialidade: o modo de ser brasileiro. Tecendo loas ao Brasil, ao Rio, à ginga, à alma brasileira.

E me espanto de como é possível que parte da opinião pública ainda não tenha se dado conta da dimensão política global de Lula. Ele se tornou um dos governantes paradigmáticos do maior processo de transformações que a humanidade atravessa desde o pós-guerra.

***

A população pobre, que era custo, hoje se tornou o grande ativo dos emergentes China, Índia e Brasil. Lula representa não apenas a história de sucesso do operário que chegou a presidente. O polonês Lech Walesa também teve esse papel e não passou de mera curiosidade histórica. Já Lula tem desempenhado um papel civilizatório inimaginável.

Assumiu um país exaurido pela insensibilidade social, liderando um continente propenso a exageros populistas históricos, como contraposição aos exageros liberais. Globalmente, o fracasso das políticas neoliberais projetou uma sombra de xenofobia, intolerância e radicalização sobre todos os continentes.

Foi nesse ambiente propício à radicalização que Lula projetou sua imagem de pacificador, de agente do processo civilizatório mundial.

Com a mesma bonomia com que trata seus adversários políticos no Brasil, ou como tratava os peões de fábrica no ABC, ajudou a criar uma alternativa democrática no continente, orientando Evo Morales, contendo os arroubos de Hugo Chávez, tornando-se a esperança do Ocidente de manter uma porta aberta com o Irã.

Quando leva Obama para uma sala para explicar, em um bate-papo, como agir no caso do Irã, o severino retirante se despe de toda liturgia do cargo, dos tremeliques da diplomacia, usa a linguagem tosca e direta com que as pessoas normais se comunicam e ajuda a desenhar a nova diplomacia mundial. E com a cara do Brasil, a afetividade do Brasil, alisando as pessoas, tratando-as com o carinho brasileiro.

Na coletiva que deu após a escolha do Rio, a profissão de fé no Brasil entrará para a história. O orgulho de ser brasileiro, o “sim, nós podemos” entra definitivamente para o repertório brasileiro do século 21, do mesmo modo que JK empurrou o país com seu otimismo e sua genuína crença no valor do brasileiro.

Daqui a vinte anos, quando o país estiver definitivamente entronizado no panteão dos grandes países do mundo, será mais fácil avaliar a verdadeira dimensão de Lula, como o grande timoneiro dessa travessia.

segunda-feira, outubro 12, 2009

Soneto para uma tia triste

Caíque Vieira

Dedicado à querida tia Ailza há um ano de sua morte

Que eterna tristeza a consumia
Que a gente "saudável" não compreendia?
Que angustia, enfim, a abatia
Que a afastava do outro, dia a dia?

Do outro precisava, me parecia
Mas confesso, triste, que não sabia
Se era ela quem não se permitia
Ou nossa egoísta e burguesa apatia.

Até que num domingo, já um triste dia
Seu corpo que, como sua alma, sofria
Solitário, como viveu, morria.

Que sua alma encontre agora a alegria
Que enquanto aqui, entre nós, vivia
Não conseguiu, mas que, enfim, merecia.

Tenis e Frescobol

Rubem Alves


Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.

Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: ‘Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?' Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.

Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ‘Eu te amo, eu te amo...’ Barthes advertia: ‘Passada a primeira confissão, eu te amo não quer dizer mais nada.’ É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: ‘Erótica é a alma.’

O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...

A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...

Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:‘Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo. A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: Tens razão, minha querida. A situação está salva e o ódio vai aumentando.’

Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...

quinta-feira, outubro 08, 2009

Agencia Carta Maior denuncia

"O dossiê contra a Petrobras entregue à imprensa pelos tucanos Alvaro Dias e Sergio Guerra foi preparado pela INTRATEC; a consultoria com sede em Houston presta serviços a grandes multinacionais petroleiras interessadas em derrubar a soberania do país no pré-sal. "

(Carta Maior; 08-10)

América Latina recorda Che Guevara


Esta quinta-feira diversos países latino-americanos recordam os 42 anos da morte do guerrilheiro heróico Ernesto Che Guevara, assassinado em 1967 na localidade boliviana de La Higuera pelo Exército desse país, que na época estava a serviço de uma ditadura obediente aos ditames da Agencia Central de Inteligência (CIA, sua sigla em inglês).

quarta-feira, outubro 07, 2009

O adeus a Mercedes Sosa


Sem perder sua ligação com o folclore, música predominante do interior argentino, Mercedes Sosa circulou por diversos gêneros musicais, enfrentou a censura de ditadores e dividiu o palco em todo mundo com músicos de diferentes estilos e gerações. Centenas de fãs e personalidades fizeram fila do lado de fora do Congresso da Nação de Buenos Aires, onde a cantora foi velada até o meio-dia de segunda-feira. Homens e mulheres de todas as idades e com flores nas mãos esperavam pacientemente para dar seu último adeus à artista.
A cantora argentina Mercedes Sosa morreu domingo (4), aos 74 anos. Hospitalizada desde 18 de setembro em Buenos Aires, seu estado de saúde se agravou na última semana devido a problemas renais e hepáticos. Sem perder sua ligação com o folclore, música predominante do interior argentino, Mercedes circulou por diversos gêneros musicais, enfrentou a censura de ditadores e dividiu o palco em todo mundo com músicos de diferentes estilos e gerações.
Centenas de fãs e personalidades fizeram fila do lado de fora do Congresso da Nação de Buenos Aires, onde a cantora foi velada até o meio-dia de segunda-feira. Homens e mulheres de todas as idades e com flores nas mãos esperavam pacientemente para dar seu último adeus à artista, cujo corpo ficará exposto no Salão dos Passos Perdidos.
"A secretária de Cultura da Nação se despede com profundo pesar de Mercedes Sosa, La Negra, uma das mais trascendentais representantes da cultura argentina no mundo", afirmou Jorge Coscia, secretário de Cultura, assegurando que "sua voz é única e será para sempre inesquecível".
"Dona de um repertório comprometido com a identidade latino-americana e mulher de sensibilidade social, La Negra foi uma das maiores figuras do canto popular universal", afirmou ainda.
"A Argentina chora uma de suas filhas mais talentosas", assinalou, por sua parte, o governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli.
"Foi uma mulher que transcedeu as fronteiras da música e projetou o folclore não apenas como um emblema artístico e cultural a nível mundial, como também o canto de liberdade e de justiça", acescentou.
"Foi a voz dos que não tinham voz na época da ditadura e levou a angústia pelos direitos humanos na Argentina a todo o mundo", declarou o músico Víctor Heredia, cantor e compositor de algumas músicas que ficaram famosas na voz de Mercedes Sosa como "Razón de Vivir".
Governo brasileiro lamenta
O governo brasileiro lamentou a morte da cantora argentina e agradeceu por sua contribuição à música e à vida.
"Gracias, Mercedes, que nos ha dado tanto!", disse o ministro de Cultura, Juca Ferreira, em espanhol, em uma nota oficial.
Ferreira destacou a voz incomparável e o comprometimento de Sosa com a arte ibero-americana e ressaltou que sua voz potente rompeu fronteiras e transmitiu ensinamentos além de territórios e bandeiras.
"Com Mercedes Sosa aprendemos o quanto temos para compartilhar com povos e nações. Ela nos deu o sentido de lugar, de pertinência a uma latinidade que nos consagra em beleza e tragédias comuns", concluiu o ministro.
Luto oficial
A presidente argentina, Cristina Fernández, vai declarar luto oficial pela morte da cantora Mercedes Sosa.
A chefe de Estado decidiu antecipar o retorno de uma viagem à Patagônia para assinar, assim que chegue a Buenos Aires, o decreto de luto oficial pela morte da artista.
O futebol argentino fez neste domingo uma homenagem à cantora popular Mercedes Sosa, com um minuto de silêncio antes de cada partida da sétima rodada do Torneio Apertura 2009 da primeira divisão.

sábado, outubro 03, 2009

O Brasil derrota os corvos

Emir Sander

“Corvo” foi o nome que ganhou Carlos Lacerda, como ave que busca rapina onde houver, senão, inventa. É o espírito udenista, golpista, que sucumbiu sucessivamente à liderança de Getúlio e das forças populares. Não ganhavam eleições, iam bater nas portas dos quartéis (“vivandeiras de quartel”, eram chamados), para tentar, pela força, o que não conseguiam pela persuasão. Até que, com o apoio decidido do governo dos EUA e da mídia – a mesma que agora: Globo, Folha, Estadão -, deram o golpe e instauraram a ditadura militar, que tantos males fez ao país.

Suas características são muito similares às dos corvos de hoje: são brancos, de classe média, odeiam o povo, tem seu núcleo básico em São Paulo, se agrupam em torno da imprensa, tem uma sólida convicção de que tem razão (mesmo contra todas as evidências e a grande maioria dos brasileiros), se refugiam em denuncias moralistas, detestam a América Latina e o sul do mundo (adorando os EUA e a Europa), crêem que São Paulo é a “locomotiva do país”, que arrasta os outros estados preguiçosos (o mesmo sentimento da sublevação de 1932, que eram separatistas). Também tem como característica ser sempre derrotados, tendo que apelar para suas armas preferidas – a força dos golpes e o monopólio da imprensa.

A campanha para trazer as Olimpíadas ao Brasil possibilitou distinguir os que amam o Brasil, mais além dos seus problemas e com todos os seus problemas, e os que têm suas almas corroídas pelo ódio, torceram e militaram contra o Brasil. (Um deles convenceu seus leitores a tal ponto que numa consulta que fez, ganhou Chicago contra o Brasil.) Agora se vestem de luto – a cor dos corvos – e já tem temas para amargurar o resto das suas vidas até 2016. Para os que têm alma pequena, segundo Fernando Pessoa, a vida não vale a pena.

Estão há anos incomodados que o Brasil dê certo governado por um operário, sindicalista de base, nordestino, sem diploma universitário, que perdeu um dedo na máquina, enquanto aquele do qual são viúvas - supostamente a pessoas melhor qualificada para dirigir o Brasil - fracassou estrepitosamente e é repudiado pelo povo. Tem a alma corroída pelo ódio, pelo despeito, pelo rancor.

Lula tinha que dar errado, como Evo tinha que dar errado, como Hugo Chávez tinha que dar errado. Um é de origem nordestina e operária, o outro é indígena, o terceiro é um mulato. Mas quem fracassou foram os tucanos, aqui, com FCH, na Bolívia, com Sanchez de Losada, na Venezuela, com Carlos Andrés Perez. Não por acaso o governo de FHC apoiava àqueles, Lula apóia aos que os sucederam e, estes, por sua vez, têm a Dilma como candidata.

Essa geração de lacerdistas, corvos do século XXI, precocemente envelhecidos, pela frustração e pelo rancor, vegetarão o que lhes resta viver, ruminando reclamações contra o Campeonato Mundial de 2014 e contra os Jogos Olímpicos de 2016. Enquanto a caravana do povo brasileiro passa.

sexta-feira, outubro 02, 2009

Un triunfo del Tercer Mundo



Fidel Castro Ruz
Poderosas potencias económicas compitieron por ser sede de las Olimpiadas en el 2016, entre ellas las dos más industrializadas del planeta: Estados Unidos y Japón. Triunfó sin embargo Río de Janeiro, una ciudad de Brasil.

Que no se diga ahora que fue generosidad de las naciones ricas con Brasil, un país del Tercer Mundo.

El triunfo de esa ciudad brasileña es una prueba de la creciente influencia de los países que luchan por su desarrollo. Con seguridad, en los pueblos de América Latina, África y Asia, la elección de Río de Janeiro será recibida con agrado en medio de la crisis económica y la incertidumbre actual con el cambio climático.

Aunque deportes populares como la pelota sean eliminados de las competencias para dar cabida a entretenimientos de burgueses y ricos, los pueblos del Tercer Mundo comparten la alegría de los brasileños y apoyarán a Río de Janeiro como organizador de los Juegos Olímpicos del 2016.

Es un deber presentarse en Copenhague con la misma unidad, y luchar para evitar que el cambio climático y las guerras de conquista prevalezcan sobre la voluntad de paz, el desarrollo y la supervivencia de todos los pueblos del mundo.

O Rio deve essa a Lula

Leandro Fortes

Lula poderia ter agido, como muitos de seus pares na política agiriam, com rancor e desprezo pelo Rio de Janeiro, seus políticos, sua mídia, todos alegremente colocados como caixa de ressonância dos piores e mais mesquinhos interesses oriundos de um claro ódio de classe, embora mal disfarçados de oposição política.

Lula poderia ter destilado fel e ter feito corpo mole contra o Rio de Janeiro, em reação, demasiada humana, à vaia que recebeu – estranha vaia, puxada por uma tropa de canalhas, reverberada em efeito manada – na abertura dos jogos panamericanos, em 2007, talvez o maior e mais bem definido ato de incivilidade de uma cidade perdida em décadas de decadência. Vaiou-se Lula, aplaudiu-se César Maia, o que basta como termo de entendimento sobre os rumos da política que se faz e se admira na antiga capital da República. Fosse um homem público qualquer, Lula faria o que mais desejavam seus adversários: deixaria o Rio à própria sorte, esmagado por uma classe política claudicante e tristemente medíocre, presa a um passado de cidade maravilhosa que só existe, nos dias de hoje, nas novelas da TV Globo ambientadas nas oníricas ruas do Leblon.

Lula poderia ter agido burocraticamente a favor do Rio, cumprido um papel formal de chefe de Estado, falado a favor da candidatura do Rio apenas porque não lhe caberia falar mal. Deixado a cidade ao gosto de seus notórios representantes da Zona Sul, esses seres apavorados que avançam sinais vermelhos para fugir da rotina de assaltos e sobressaltos sociais para, na segurança das grades de prédios e condomínios, maldizer a existência do Bolsa Família e do MST, antros simbólicos de pretos e pobres culpados, em primeira e última análise, do estado de coisas que tanto os aflige.

Lula poderia ter feito do rancor um ato político, e não seria novidade, para dar uma lição a uma cidade que o expôs e ao país a um vexame internacional pensado e executado com extrema crueldade por seus piores e mais despreparados opositores.

Mas Lula não fez nada disso.

No discurso anterior à escolha do Comitê Olímpico Internacional, já visivelmente emocionado, Lula fez o que se esperava de um estadista: fez do Rio o Brasil todo, o porto belo e seguro de todos os brasileiros, a alma da nacionalidade. Foi um ato de generosidade política inesquecível e uma lição de patriotismo real com o qual, finalmente, podemos nos perfilar sem a mácula do adesismo partidário ou do fervor imbecil das patriotadas. Lula, esse mesmo Lula que setores da imprensa brasileira insistem em classificar de títere do poder chavista em Honduras, outra vez passou por cima da guerrilha editorial e da inveja pura e simples de seus adversários. Falou, como em seus melhores momentos, direto aos corações, sem concessões de linguagem e estilo, franco e direto, como líder não só da nação, mas do continente, que hoje o saúda e, certamente, o aplaude de pé.

Em 2016, o cidadão Luiz Inácio da Silva terá 71 anos. Que os cariocas desse futuro tão próximo consigam ser generosos o bastante para também aplaudi-lo na abertura das Olimpíadas do Rio, da qual, só posso imaginar, ele será convidado especial.