quarta-feira, junho 10, 2009

O caminho além da OEA

Nidia Díaz (Savaldorenha)

A resolução da Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) que anulou sem condicionamentos a sanção de expulsão de Cuba neste organismo, imposta pelo governo dos EUA há 47 anos na reunião de consulta de chanceleres de Punta del Este, no Uruguai, foi não só uma vitória da firme resistência do povo cubano durante quase meio século, mas também evidenciou a abrangência e fortaleza das mudanças acontecidas na América Latina e no Caribe, transformando o mapa político deste outrora "quintal" do imperialismo norte-americano, ao passo que demonstrou a decadência e perda irremediável da influência política e das possibilidades de pressão e chantagem que até o momento caracterizaram as relações de Washington com os países da área.

Os resultados da Assembleia da OEA em San Pedro Sula, Honduras, e da maneira que se desenvolveram os acontecimentos que levaram à histórica resolução, patentearam, por outro lado, que a presença dos Estados Unidos em qualquer organismo que reúna as nações latinoamericanas e caribenhas é um obstáculo e elemento de coerção e ameaças com o propósito de ganhar o apoio e a justificação para seus interesses egoístas.

Por tal motivo, confirma-se, mais uma vez e com maior força - e em San Pedro Sula teve sua máxima expressão - a necessidade de que os países da América Latina e do Caribe tenham seu próprio âmbito de deliberação, integração e defesa de seus interesses comuns, pois os governos de turno, sem dúvida, continuarão apoiando a OEA e contribuindo com 60% do orçamento; pois eles necessitam continuar utilizando a OEA como instrumento de dominação.

A brilhante intervenção do presidente hondurenho, Manuel Zelaya, na sessão de encerramento, pode considerar-se peça antológica, que recolheu, com linguagem direta e clara, a decisão atual dos povos latino-americanos e caribenhos a favor de uma verdadeira soberania e de conquistar realmente uma segunda independência. Zelaya se referiu à própria carta fundacional da OEA para esclarecer o direito inalienável de cada nação de estabelecer o regime político que livremente adotar, sem intervenções de nenhum tipo, com o qual evidenciou a falácia daqueles que pretendem impor um único tipo de democracia e um único tipo de sociedade aos nossos povos; prestou uma homenagem de respeito e admiração ao povo de Cuba, à Revolução cubana e ao seu líder, Fidel Castro, pelo exemplo de resistência e dignidade dado à América Latina e ao mundo em geral, sem o qual não tivesse sido possível este desenlace.

Embora o governo dos EUA e a mídia afim tentassem negá-lo, a resolução sobre Cuba adotada nesta Assembleia, paradoxalmente, traz à baila as contradições manifestas entre a própria Carta da OEA - documento fundamental e básico dessa organização - e outras declarações e acordos que, em anos seguintes, foram adotadas em seus fóruns, sob pressão ianque e com a cumplicidade de governos fantoches e ditaduras militares como a conhecida Carta Democrática Interamericana de 2001, cujo conteúdo excludente e impositivo nega os mesmos direitos que o documento fundacional diz reconhecer.

A recém-eleita administração Obama recebeu uma lição inesquecível do que é capaz a unidade, a firmeza e a dignidade das nações latino-americanas e caribenhas, quando nelas lideram governos decididos a representarem e defenderem os mais genuínos interesses dos povos, entre os quais merecem especial menção os que atualmente fazem parte da Alternativa Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA) que tiveram um papel destacado nesta Assembleia e em todo o processo que levou a estes resultados.

Depois de quase cinco décadas, e contrariamente ao que foram as intenções do regime imperial e sua política de bloqueio, agressão, sabotagem e terrorismo ao longo deste período, foi precisamente a Revolução Cubana que propiciou com este acordo reivindicador de San Pedro Sula, a confirmação de que uma nova etapa abre caminho para os povos latino-americanos e caribenhos e que Washington não está em condições de impedi-lo em meio a sua aguda crise moral, econômica e social.

Premonitórias foram as palavras contidas na Segunda Declaração de Havana, que em data tão longínqua como 4 de fevereiro de 1952, o povo de Cuba aprovou na Praça da Revolução, como resposta à infame sanção da OEA em Punta del Este.

A Revolução Cubana chega a este momento firme e erguida, sem fazer concessões e apegada à defesa de seus princípios e direitos, diante de todas as agressões e adversidades, continuando o curso histórico que legaram os próceres de uma nação que sempre enfrentou os mais poderosos interesses que pretenderam destruí-la.

O grande mérito desta justa reivindicação é - como expressou o presidente Zelaya - do heróico povo cubano e seu guia Fidel Castro, que tem liderado esta luta com decisão e audácia, com inteligência e sabedoria, além disso, de todos os que em qualquer canto da América empreendem a Segunda Independência, que hoje assoma e nos convoca a continuar defendendo-a.

Com certeza, o caminho aberto em San Pedro Sula vai além da OEA.

Nenhum comentário: