segunda-feira, abril 13, 2009

A Nova Toupeira


Resenha de Michael Lowy

A toupeira é um simpático mamífero que vive cavando túneis debaixo da terra e, quando menos se espera, abre uma brecha e ganha o ar livre. Esse trabalho de sapa e, sobretudo, essas irrupções imprevisíveis são provavelmente a razão por que Karl Marx escolheu esse insolente bichinho para símbolo da Revolução (com R maiúsculo).

Este belo livro é dedicado às aventuras da toupeira na América Latina. Seu autor, Emir Sader, ensaísta, politólogo, secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso), é não só um dos mais influentes cientistas sociais da América Latina, como também um militante marxista confesso e convicto, não arrependido, não “liberalizado” e não reconciliado com a ordem (capitalista) estabelecida. Como muitos de sua geração, Emir foi impactado pelo maravilhoso, inesperado e vulcânico aparecimento da toupeira na ilha de José Marti: um acontecimento que mudou a história de nosso continente. Ele, porém, é daqueles poucos que forma “vermelhos” nos anos 1960 e 1970 e não substituíram por água mineral – ou Coca-Cola! – o seu vinho tinto.

Sou mais crítico a Lula do que meu amigo Emir; mas acho que ele tem razão em tratar de entender “as formas concretas assumidas pela luta anticapitalista contemporânea”. A revolução nunca se repete da mesma maneira e hoje, na América Latina, o itinerário subterrâneo da toupeira passa sem dúvida pela Venezuela de Hugo Chávez, pela Bolívia de Evo Morales, pelo Equador de Rafael Correa. De que revolução se trata ? Che Guevara já havia escrito nas paredes do império, com letras de fogo, a frase: “Não há mais mudanças a fazer: ou revolução socialista ou caricatura de revolução”. É o equivalente profano daquela fórmula misteriosa surgida nos muros do palácio do rei da Babilônia: “Mene, mene, tekel upharsin”, interpretada pelo profeta Daniel como: “Teus dias estão contados”. Emir não esqueceu essa bela lição, que foi também a de José Carlos Mariátegui, de Farabundo Martí e de tantos outros. No coração de seu livro encontra-se essa bandeira: “O socialismo permanecerá no horizonte histórico como alternativa potencial ou real, porque é, em última instância, o anticapitalismo, sua negação e sua superação dialética”. Do fundo de seu túnel, a touperia, leitora atenta da Ideologia alemã e de O capital, aprova com pés e mãos.

A quem não aceita a infâmia capitalista como único futuro para os povos da América Latina, este livro vai interessar; ele nos ajuda a entender por onde passa “os processos de transformação revolucionária de nossa realidade”.

Nenhum comentário: