terça-feira, abril 14, 2009

Fulgor e Morte do Neoliberalismo



“Hegel disse em algum lugar que todos os grandes feitos e personagens da história universal acontecem, como diríamos, duas vezes. Mas esqueceu-se de acrescentar: uma vez como tragédia e a outra como farsa”. (Karl Marx em “O 18 brumário de Luís Bonaparte”).

Carlos Henrique de Pontes Vieira

Adam Smith (1723-1790), economista e filósofo escocês, tendo como cenário para a sua vida o século XVIII, conhecido como o Século das Luzes, é o mais importante teórico do liberalismo econômico. Autor do livro Uma Investigação Sobre a Natureza e a Causa da Riqueza das Nações, sua obra mais famosa, é referência, ainda hoje, para gerações de economistas. Nela ele procura demonstrar que a riqueza das nações advém da atuação de indivíduos que, movidos apenas por seu egoísmo, acabam por promover o crescimento econômico e a inovação da tecnologia. Smith costumava dizer que "não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu auto-interesse". A dinâmica da economia seria regida por uma “mão invisível”.

Essa teoria vigorou cheia de fulgor até 1929 quando deu no que deu. Naquele ano o mundo assistia, estupefato, fortunas, da noite para o dia, virando pó com a quebra da Bolsa de Valores dos Estados Unidos, enquanto, no mundo acadêmico, já se discutia a mais nova teoria econômica de um inglês chamado John Maynard Keynes (1883-1946) cujas ideias reformadoras, em sua principal obra, Teoria Geral do Emprego, do juro e da Moeda, defendia o papel regulatório do Estado na economia para mitigar os efeitos das crises ciclicas na economia capitalista.

Essas ideias chocavam-se com as doutrinas econômicas até então vigentes naquela época, mas foi com elas que o presidente americano Franklin Delano Roosevelt formulou o seu New Deal, tirando os Estados Unidos da depressão e levando este país, em pouco mais de 5 anos, à condição de grande potencia mundial.

O papel regulador do Estado foi inspirado a partir da observação do sucesso econômico da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas que vinha de uma economia feudal e, com a revolução de 1917, se transformara em grande potência econômica e militar. Era, portanto, o preço que a elite capitalista ocidental tinha que pagar para concorrer com esta potência. O Estado se transformaria no alavancador da economia e no grande promotor de políticas sociais. Era o Estado do Bem-estar Social que durou pouco tempo, pois seria abandonado já após a segunda grande guerra, com o enfraquecimento do maior rival, a URSS, que havia perdido um contingente de 25 milhões de vidas humanas naquele conflito.

Foi ressurgindo, aos poucos, com novo fulgor jamais visto numa doutrina econômica, a velha doutrina liberal de Adam Smith, agora ideologicamente chamada de neoliberalismo, com uma força tão vigorosa, conquistando corações e mentes em todos os recantos do mundo ocidental, inclusive entre pensadores de esquerda, a partir da década de 70 até os anos 90, produzindo uma sensação de pensamento único, quando desmoronava o muro de Berlim e o império Soviético, que o cientista social Francis Fukuiama proclamou o fim da história

Agora estamos assistindo o que talvez não seja a derrocada do capitalismo, mas, pelo menos, a morte definitiva da doutrina neoliberal responsável por tantos males causados à humanidade, bem como o ressurgimento da doutrina keynesiana e a impressão de que não basta a tragédia, é preciso a farsa.

3 comentários:

Ronaldo disse...

Excelente, Caique. Gostaria que você tivesse desenvolvido mais, mas tudo que foi dito está excelente.

Um grande abraço,

Ronaldo

Máuri disse...

Parabéns, o artigo está muito bem feito, irretocável.

Um abração do amigo

Máuri

Deoclécio disse...

OK! Velho Tururu.

Seu trabalho prima pela qualidade de textos emblemáticos e eu não me atreveria a tecer qualquer comentário técnico no momento, sobre referidos textos.
Porém após uma leitura apurada, poderemos tomando um bom vinho, comentar sobre essas preciosidades da economia.
Abraços
Dodó.



Acredite em você!
Acredite na vida!
Acredite em Deus!

Deoclécio