sexta-feira, fevereiro 17, 2012

A ambição capitalista


"É a ambição de possuir, mais do que qualquer outra coisa, que impede os homens de viverem de uma maneira livre e nobre."
( Bertrand Russell ) 



Caíque Vieira
Há alguns anos, em um artigo intitulado Um projeto de Nação, eu escrevia: “Qual a razão de nossa concentração de renda se nem o próprio capitalismo é beneficiário dela? Os três pilares desse sistema econômico são o investimento, a poupança e o consumo. Ora, a propensão a investir, a poupar e a consumir aumenta quando há uma distribuição mais eqüitativa dos rendimentos, e o aumento desses agregados econômicos é o alavancador de uma economia de mercado.

Pode-se objetar que um exército de reserva de mão-de-obra barata interessa ao sistema. Pergunta-se: interessa mais do que a formação de um mercado fabuloso, como seria o brasileiro, se a riqueza fosse mais bem distribuída? É difícil de acreditar, já que as nações desenvolvidas não concentram renda como nós. E mais: o custo do esgarçamento do tecido social é tão alto que é fácil concluir que há uma grande irracionalidade de nossas elites capitalistas ao optarem pelo exército de reserva de mão-de-obra barata ao invés de uma distribuição razoável do que produzimos.”

Nessa época talvez eu não percebesse quão ambiciosos são os capitalistas. Nenhuma preocupação eles têm com o esgarçamento do tecido social e a questão da formação do mercado é resolvida tornando as mercadorias obsoletas em pouco tempo de uso, criando a necessidade de uma nova versão do mesmo produto para os mesmos consumidores. Portanto, um produto de menor qualidade, menor custo de produção, menos vida útil, uma nova versão do mesmo produto, os mesmos compradores da antiga versão compram a nova versão e a manutenção do exército de reserva de mão de obra barata.

É assim que funciona a engrenagem capitalista, indiferente à crise ambiental, à crise de emprego, à concentração de renda. Nenhum projeto de nação auto-sustentável e includente. Isso explica também porque um economista como John Maynard Keynes, mesmo pertencendo às hostes capitalistas, se tornou um proscrito. Sob a suspeita de estatista, ele tinha um grave "defeito": era um ser humano ético, conhecia as contradições e perversidades do capitalismo, suas crises cíclicas e as mazelas sociais decorrentes delas. É o bastante: anátema!




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