Antonio Eugênio,
Como não existe neutralidade em
nenhuma produção de conhecimento, o seu texto não fugiu à regra e nem será o
meu que fugirá. O que quero é fazer aqui um contraponto e propor sempre
serenidade para saber olhar os dois lados, bom e ruim, das nações.
A URSS ficou satanizada pela
propaganda pesada da guerra fria, sobretudo pelo período stalinista que durou
31 anos, de 1922, quando Lênin sofreu um derrame que o matou em 1924, até 1953
quando Stálin morreu. Só que o país socialista durou 74 anos, de 1917, quando
foi invadido por 14 países hostis à revolução, até 1991. Então, se você fizer a
diferença, 74-31= 43 anos, um período maior do que o período stalinista onde
várias coisas boas aconteceram e bem que poderíamos ser mais gratos por elas:
1. a sua importante e dramática
participação na 2a. guerra e na vitória sobre Hitler.
2. os direitos da mulher
3. a legislação trabalhista
4. o anticolonialialismo
5. a alfabetização universal e
gratuita
6. a elevação de vida da classe
trabalhadora
7. o desenvolvimento artístico de
grande qualidade.
A perestroika e a glasnost de
Gorbachov que tentava mostrar ser possível conciliar igualdade e liberdade
individual foi solapada pelo ocidente dando força e apoio ao seu protegido,
Boris Yeltsin, que deu no que deu: desmantelaram a URSS, grupos mafiosos
tomaram o poder e a esculhambação reinou. A Rússia hoje retoma aos poucos a sua
grandeza.
Os EUA entraram tardiamente na
guerra, em 1941, mas só em 1943 foi que Roosevelt enviou um contingente mais
expressivo de soldados norte-americanos para o Egito, onde venceram as tropas
alemãs na Batalha de El Alamein. Outra importante participação dos EUA foi o
desembarque na Normandia (França), que juntamente com os aliados venceram o exército
alemão e a cidade de Paris voltou para o controle da França, antes dominada
pelos alemães. Perderam 300 mil vidas, todos eram soldados, não havia civis. Foi o
país que mais lucrou com a guerra.
Jamais devemos esquecer: URSS e
EUA foram parceiros nesta guerra. A URSS por ter perdido 25 milhões de vidas de
civis e soldados e mais a besteira de ter entrado em competição com o
capitalismo, desperdiçando seu capital no orçamento militar, se enfraqueceu
economicamente e acabou se desmantelando.
A nação mais rica do mundo, com
muitas coisas para se elogiar, se divulga como a mais democrática do mundo, mas
é onde acontecem os seguintes fatos, cito só esses para não ficar extensa e
cansativa a lista:
1. 22% das crianças americanas
vive abaixo do limiar da pobreza.
2. entre 1890 e 2012, os EUA
invadiram ou bombardearam 149 países.
3. os EUA são o único país da
OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que não oferece qualquer
tipo de subsídio de maternidade.
4. 125 norte-americanos morrem
todos os dias por não poderem pagar qualquer tipo de plano de saúde.
5. os EUA foram fundados sobre o
genocídio de 10 milhões de nativos. Só entre 1940 e 1980, 40% de todas as
mulheres em reservas índias foram esterilizadas contra sua vontade pelo governo
norte-americano.
6. O preço médio de uma licenciatura numa
universidade pública é 80 mil dólares.
György Lukács, um marxista
húngaro, escreveu, em francês, sobre o socialismo: "charbons ardents d'un
grand feu éteint" (carvões ardentes de um grande fogo apagado) porque
ninguém vive sem uma utopia. O capitalismo é um sistema que se mostrou apto a
gerar riqueza e - inapto a distribuí-la - pobreza. O nosso querido e
insuspeito primo, o Itamaraty, o Pedra Rosa, o Pedrosa ficou pasmo ao saber que
o 1% mais rico do mundo possui o equivalente ao que possui o restante 99%.
Conciliar a igualdade com a liberdade individual, o sonho de Gorbachev na sua
glasnost e perestroika, e o nosso também, não é fácil, sobretudo num país como
o Brasil. Henri Dominique Lacordaire nos alerta: "Entre fortes e fracos,
entre ricos e pobres, entre senhor e servo é a liberdade que oprime e a lei que
liberta". É uma lição que fundamenta o nosso repúdio ao neoliberalismo
econômico. Nossa Constituição dita o capitalismo como o modo de produção do
país, pelo menos que a sua segunda vertente, a social democracia, seja a que
prevaleça em nossas escolhas por ser a mais moderna e razoável.
Abraço,
Caíque.
Nenhum comentário:
Postar um comentário