segunda-feira, fevereiro 08, 2016

Mensagem ao primo Antonio Eugênio




Antonio Eugênio,

Como não existe neutralidade em nenhuma produção de conhecimento, o seu texto não fugiu à regra e nem será o meu que fugirá. O que quero é fazer aqui um contraponto e propor sempre serenidade para saber olhar os dois lados, bom e ruim, das nações.

A URSS ficou satanizada pela propaganda pesada da guerra fria, sobretudo pelo período stalinista que durou 31 anos, de 1922, quando Lênin sofreu um derrame que o matou em 1924, até 1953 quando Stálin morreu. Só que o país socialista durou 74 anos, de 1917, quando foi invadido por 14 países hostis à revolução, até 1991. Então, se você fizer a diferença, 74-31= 43 anos, um período maior do que o período stalinista onde várias coisas boas aconteceram e bem que poderíamos ser mais gratos por elas:

1. a sua importante e dramática participação na 2a. guerra e na vitória sobre Hitler.
2. os direitos da mulher
3. a legislação trabalhista
4. o anticolonialialismo
5. a alfabetização universal e gratuita
6. a elevação de vida da classe trabalhadora
7. o desenvolvimento artístico de grande qualidade.

A perestroika e a glasnost de Gorbachov que tentava mostrar ser possível conciliar igualdade e liberdade individual foi solapada pelo ocidente dando força e apoio ao seu protegido, Boris Yeltsin, que deu no que deu: desmantelaram a URSS, grupos mafiosos tomaram o poder e a esculhambação reinou. A Rússia hoje retoma aos poucos a sua grandeza.

Os EUA entraram tardiamente na guerra, em 1941, mas só em 1943 foi que Roosevelt enviou um contingente mais expressivo de soldados norte-americanos para o Egito, onde venceram as tropas alemãs na Batalha de El Alamein. Outra importante participação dos EUA foi o desembarque na Normandia (França), que juntamente com os aliados venceram o exército alemão e a cidade de Paris voltou para o controle da França, antes dominada pelos alemães. Perderam 300 mil vidas, todos eram soldados, não havia civis. Foi o país que mais lucrou com a guerra.

Jamais devemos esquecer: URSS e EUA foram parceiros nesta guerra. A URSS por ter perdido 25 milhões de vidas de civis e soldados e mais a besteira de ter entrado em competição com o capitalismo, desperdiçando seu capital no orçamento militar, se enfraqueceu economicamente e acabou se desmantelando.

A nação mais rica do mundo, com muitas coisas para se elogiar, se divulga como a mais democrática do mundo, mas é onde acontecem os seguintes fatos, cito só esses para não ficar extensa e cansativa a lista:

1. 22% das crianças americanas vive abaixo do limiar da pobreza.
2. entre 1890 e 2012, os EUA invadiram ou bombardearam 149 países.
3. os EUA são o único país da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que não oferece qualquer tipo de subsídio de maternidade.
4. 125 norte-americanos morrem todos os dias por não poderem pagar qualquer tipo de plano de saúde.
5. os EUA foram fundados sobre o genocídio de 10 milhões de nativos. Só entre 1940 e 1980, 40% de todas as mulheres em reservas índias foram esterilizadas contra sua vontade pelo governo norte-americano.
 6. O preço médio de uma licenciatura numa universidade pública é 80 mil dólares.

György Lukács, um marxista húngaro, escreveu, em francês, sobre o socialismo: "charbons ardents d'un grand feu éteint" (carvões ardentes de um grande fogo apagado) porque ninguém vive sem uma utopia. O capitalismo é um sistema que se mostrou apto a gerar riqueza e - inapto a distribuí-la - pobreza. O nosso querido e insuspeito primo, o Itamaraty, o Pedra Rosa, o Pedrosa ficou pasmo ao saber que o 1% mais rico do mundo possui o equivalente ao que possui o restante 99%. Conciliar a igualdade com a liberdade individual, o sonho de Gorbachev na sua glasnost e perestroika, e o nosso também, não é fácil, sobretudo num país como o Brasil. Henri Dominique Lacordaire nos alerta: "Entre fortes e fracos, entre ricos e pobres, entre senhor e servo é a liberdade que oprime e a lei que liberta". É uma lição que fundamenta o nosso repúdio ao neoliberalismo econômico. Nossa Constituição dita o capitalismo como o modo de produção do país, pelo menos que a sua segunda vertente, a social democracia, seja a que prevaleça em nossas escolhas por ser a mais moderna e razoável.

Abraço,

Caíque.

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