segunda-feira, agosto 13, 2012

Gênese do hai-kai "Prazeres"

É um hai-kai que eu gosto muito. "Prazeres" é o seu título. Ali estão meus mais caros deleites que cultivo com dedicação há mais tempo e os novíssimos.

Sou capaz de ficar longos períodos sozinho, pensando ou apenas contemplando algo. Tenho esse traço de personalidade e dele, às vezes, sai um ato criativo. Ultimamente, tenho pensado em como acontece a gênese desse ato criativo e como é que ele vai se desenvolvendo.

Foi a partir da visão de uma foto das mãos de Bebo Valdez ao piano, exposta na revista Cubadebate. Ele, magistral pianista de jazz, cubano da velha guarda. Observei essa foto por vários minutos, me lembrando dele, já velhinho, fazendo um dueto com seu filho Chucho Valdez, outro gênio da arte. Tocavam uma belíssima canção cubana chamada La comparsa. Depois, a foto já me remetia às mãos do papai que também gostava de tocar seu pianinho.










Mais tarde, fizemos uma fotografia das minhas também ao piano que resultou assim:









Observava a foto longamente, queria escrever algo sobre ela, sobre o jazz.

Nesse tempo, comecei a degustar e apreciar cerveja, estimulado por uma saborosíssima que havíamos provado em Copenhagen. Não era a minha bebida predileta, mas depois dessa dinamarqueza passei a me interessar e pesquisar. Quanto mais degustava, mais eu ia constatando que as minhas preferidas eram as de trigo ou as strong ale. A memorável nórdica deveria ser de um desses tipos.

Desde a minha adolescência, ouvia, tocava e amava o jazz e seus personagens. Era meu prazer predileto e as duas palavras juntas - prazer e jazz - me chamavam a atenção pela abundância da letra z, marca do libertador dos oprimidos da América espanhola, Diego de la Vega, El Zorro, que alimentava a fantasia de minha infância. Hoje, o libertador real é o admirável cubano Fidel Castro cujas reflexões leio com renovado prazer.

Prazer... achar prazer em... comprazer. "Compraz" rima com "jazz". "O que me compraz", com cinco sílabas, daria um hai-kai. Imediatamente, associei também às cervejas que degustava e que me compraziam. Ato contínuo, como num impulso, fui à geladeira abrir uma cerveja de trigo geladinha. Assistia com êxtase meus ídolos cubanos. Bebo improvisava e Chucho segurava a base harmônica, ao mesmo tempo, eu apreciava as fotos.

Quando terminou a música, meio distraído, lí na garrafa a palavra alemã "weiss" que significa branca e se refere à cor da cerveja de trigo que também rima com "jazz" e "compraz", embora a estrutura do hai-kai não peça a rima no segundo verso de sete sílabas.

O hai-kai ficou então assim:

Prazeres

O que me compraz
cervejinha ale ou weiss
seu amor e jazz.

O amor inserido no poema é o da Gilda que é um prazer muito mais antigo, de 40 anos, tão antigo que, como dizia o Drummond, tem raízes fundas e, em matéria de beleza, já suplanta a natureza.

Fortaleza, 12 de agosto de 2012.

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