quinta-feira, outubro 13, 2011

A ocupação da agenda política

Em 1932, a taxa de desemprego nos EUA era de quase 25%, um em cada quatro norte-americanos estava desempregado. Havia inquietação nas ruas. Protestos brotavam nas cidades. Marchas arrebanhavam descontentes. Mas um acontecimento mais que qualquer outro marcou a radicalização que definiria a disputa presidencial no ano seguinte e com ela a politização da crise. Em Washington, veteranos da primeira guerra, pobres e desempregados, indignados com a recusa do governo em adiantar-lhes o bônus de ex-combatentes, montaram um acampamento nas praças e ruas da avenida principal. A ocupação começou repentinamente. Acabou reunindo milhares. Foi duramente reprimida pelo governo do Presidente Hoover , cujo secretário do Tesouro, Andrew Mellow --a exemplo do extremismo neoliberal dos dias de hoje-- opunha-se tenazmente a qualquer intervenção do Estado na economia.Mellow acreditava mesmo que a recessão seria benéfica-- 'Ela limpará a podridão do sistema', dizia. A repressão aos ocupantes de Washington rachou a própria direita. Uma parte apoiaria o democrata Franklin Roosevelt que venceria as eleições no ano seguinte. Roosevelt tomou posse em 3 de março de 1933. Seis dias depois, fez o Congresso discutir e aprovar, em um único dia, uma Lei de Emergência Bancária que colocava a banca sob custódia federal. A estatização branca do sistema permitiu-lhe erradicar a especulação e a jogatina subordinando o crédito aos desígnios da produção, do emprego e do consumo. Em 1933 surgiria o termo 'macroeconomia', em contraponto à visão pontual e mercadista predominante então, exceto entre os marxistas. Em 36, Keynes lançaria seu livro 'Teoria Geral do Emprego , do Salário e do Lucro' que sancionaria a intervenção do Estado para estabilizar a curva do investimento e modular as expectativas do capital. A ocupação de Washington não propôs a lei Bancária a Roosevelt, nem pautou a Teoria Geral, de Keynes. Mas ajudou a promover a ocupação política da agenda da crise que mudaria a história dos EUA e a do século XX.

(Carta Maior; 5ª feira, 13/10/ 2011)

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