sexta-feira, setembro 10, 2010

Eles usam black tie

Walter Sorrentino

Lá vai o féretro da Política. Ela, pálida de morte, vai contrariadíssima, cheia de vergonha e indignação. Jamais imaginou ser declarada inimiga e conduzida na padiola com que querem enterrá-la os próceres da oposição. Menos ainda que difundissem que teria perecido em meio a crônicas policiais de segunda categoria. Imaginava ser um adversário de escol e, assim, ter melhor morte, se fosse para morrer. Mas ao contrário. Não morreria justo agora em que as maiores parcelas do povo irrompem no proscênio da política brasileira.

Aliás, o povo protagonista da política demorou mais que ser retratado nos palcos da dramaturgia nacional, inaugurado pelo magistral Guarnieri em Eles não usam black tié, lá se vão 50 anos. Na política, a inovação histórica tem apenas 8 anos. Sempre se imaginou que, quando isso ocorresse, haveria grandes tormentos para a parcela mais bem aquinhoada da sociedade. Mas não. O país seguiu bem, melhorou, reencontrou o caminho do desenvolvimento após duas décadas perdidas na estagnação.

Os que usam o black tie, ou os que se julgam os únicos a poder usá-lo, esses sim ficaram atormentados. Agem como sempre: prepotentes, donos da verdade (publicada), em manchetes que só plutocratas teriam coragem de usar. Como por exemplo Jereissati, o senador, dizer da situação brasileira: “Vai acabar todo mundo no Bolsa-Família e ninguém produz mais nada”. É o que um escravocrata pensava da abolição no fim do século 19 – mas nem teria coragem de dizê-lo em público. Jereissati é corajoso, como se vê, tanto quanto a oposição golpista e inconseqüente da Venezuela.

Os tucanos perdidos estavam como oposição, assim continuaram na campanha. Perderam o debate político na sociedade. Carente de outro rumo, puseram em ação uma versão requentada de udenismo primário, aquele que levou Getúlio ao suicídio, ou o que, em outros tempos , produziu a ditadura de 1964 – lembrem-se, também em nome da democracia. Hoje são as bandeiras farsescas da mexicanização, estado policial, subperonismo, autoritarismo popular, perigo para a democracia. A oposição midiático-tucana (hoje seria exagero falar em “demo”-tucana…) chegou a extremos de cinismo, insensatez, falta de escrúpulos. Manchetes de “escândalos” se sucedem todo dia, dias a fio, tão artificiais quanto previsíveis, nos jornalões da Globo e de São Paulo (só isso). Expedientes obscuros, inescrupulosos e mal afamados. É tutto la stessa cosa. É como uma marcha-fúnebre da Política.

Só o povo não é o mesmo. Ele foi quem definiu a tendência desta eleição, com grande antecedência: forneceu o vetor pela continuidade. Deu seu voto de confiança no rumo aberto no país por Lula, a ser continuado por Dilma. Espera que esse caminho produza todos os frutos potenciais. Em termos de nações, isso é coisa para pelo menos 20 anos, para consolidar e aprofundar a mudança de rumo nascida do governo Lula.

A oposição errou estrategicamente. A mãe dos erros é sua visão de país. Ou melhor, a cegueira para o que aconteceu de fato nos últimos anos para 192 milhões de brasileiros, particularmente os 56 milhões que ascenderam socialmente de maneira marcante. O tucanos estagnaram, ficaram presos ao falso brilho de latão reluzente que significou sua passagem pelo poder nos anos 1990, com Fernando Henrique, e à perspectiva de um projeto de inserção subordinada do país à globalização neoliberal, sócio menor do consórcio norte-americano.

Haveria como ser mais digno na derrota, mas vá lá. O pior pode estar por vir para eles. Terão que se reinventar. A perspectiva de derrota é má conselheira e adverte-se dias difíceis – a vingança entre eles será maligna. Enquanto isso, a Política, longe de ser enterrada, se instituirá em plenitude, na disputa, na sociedade e no governo, de rumos do projeto para o país. Aliás, mais necessária e bem servida agora que nunca, pois o povo conquistou cidadania mais plena numa democracia mais extensa e profunda.

Nenhum comentário: