"É a ambição de possuir, mais do que qualquer
outra coisa, que impede os homens de viverem de uma maneira livre e
nobre."
( Bertrand Russell )
Caíque Vieira
Há alguns anos, em um artigo
intitulado Um projeto de Nação, eu
escrevia: “Qual a razão de nossa concentração de renda se nem o próprio
capitalismo é beneficiário dela? Os três pilares desse sistema econômico são o
investimento, a poupança e o consumo. Ora, a propensão a investir, a poupar e a
consumir aumenta quando há uma distribuição mais eqüitativa dos rendimentos, e
o aumento desses agregados econômicos é o alavancador de uma economia de
mercado.
Pode-se objetar que um exército
de reserva de mão-de-obra barata interessa ao sistema. Pergunta-se: interessa
mais do que a formação de um mercado fabuloso, como seria o brasileiro, se a
riqueza fosse mais bem distribuída? É difícil de acreditar, já que as nações
desenvolvidas não concentram renda como nós. E mais: o custo do esgarçamento do
tecido social é tão alto que é fácil concluir que há uma grande irracionalidade
de nossas elites capitalistas ao optarem pelo exército de reserva de
mão-de-obra barata ao invés de uma distribuição razoável do que produzimos.”
Nessa época talvez eu não
percebesse quão ambiciosos são os capitalistas. Nenhuma preocupação eles têm
com o esgarçamento do tecido social e a questão da formação do mercado é
resolvida tornando as mercadorias obsoletas em pouco tempo de uso, criando a
necessidade de uma nova versão do mesmo produto para os mesmos consumidores.
Portanto, um produto de menor qualidade, menor custo de produção, menos vida
útil, uma nova versão do mesmo produto, os mesmos compradores da antiga versão
compram a nova versão e a manutenção do exército de reserva de mão de obra
barata.
É assim que funciona a
engrenagem capitalista, indiferente à crise ambiental, à crise de emprego, à
concentração de renda. Nenhum projeto de nação auto-sustentável e includente.
Isso explica também porque um economista como John Maynard Keynes, mesmo pertencendo
às hostes capitalistas, se tornou um proscrito. Sob a suspeita de estatista,
ele tinha um grave "defeito": era um ser humano ético, conhecia as
contradições e perversidades do capitalismo, suas crises cíclicas e as mazelas
sociais decorrentes delas. É o bastante: anátema!
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