segunda-feira, fevereiro 29, 2016

De Mastins e de Poodles

Mauro Santayana

No day after da aprovação pelo Senado de proposta que  muda as regras do pré-sal, abrindo caminho para leilões de novos campos de petróleo e para a aprovação pela Câmara de projeto ainda mais vergonhoso, que prevê o fim do regime de partilha e a volta ao regime de concessão que vigia até 2010, estabelecido nos “fantásticos” tempos de FHC, autoridades norte-americanas movem mundos e fundos para impedir a compra, pela poderosa estatal chinesa ChemChina, da multinacional química Syngenta, por 44 bilhões de dólares.

Embora de origem suíça, a Syngenta tem forte presença no mercado agrícola norte-americano, onde está cotada em bolsa e conta com acionistas  como o Bank of America e o fundo de investimentos Blackrock.

Com essa atitude, os EUA querem também evitar que Pequim reforce sua posição na área de transgênicos prejudicando direta e indiretamente grandes empresas norte-americanas do setor, como a Monsanto - ao contrário do que ocorre no Brasil, os chineses tratam as multinacionais de sementes e defensivos agrícolas estrangeiras com rigor e são extremamente cuidadosos na liberação da venda de seus venenos e organismos geneticamente modificados em seu território, um dos maiores mercados do mundo. 

A pseudo “massa” ignara, abjeta, fútil e fascista, que pulula pela internet e pela mídia conservadora brasileira, deveria aproveitar o seu pegajoso pró-norte-americanismo para aprender a diferença entre os EUA – e outros países com P maiúsculo na administração de seus interesses - e o Brasil: por lá, quando se trata da entrega de setores ou mercados estratégicos para potências concorrentes, os mastins nacionalistas dos Estados Unidos ladram e rugem - mesmo quando não se trata de empresas 100% norte-americanas – e arreganham os caninos, enquanto, por aqui, nossos delicados poodles entreguistas antinacionais fazem festa para os gringos, e balançam, arfantes e em êxtase, os rabinhos.

terça-feira, fevereiro 23, 2016

Havana

O mundo chega em Havana em hordas cada vez maiores. Nas ruas de paralelepípedos de Habana Vieja, a cidade antiga lindamente restaurada, agora pode ser difícil mover-se entre as multidões dos grupos turísticos. Eles seguem seus guias com bandeirinhas entre as praças rodeadas de cafés, saem do Museo del Chocolate, passam por estátuas vivas e franquias de Victorinox e Diesel e chegam a butiques que ocupam majestosas mansões antigas, onde relógios feitos à mão são vendidos por 12 mil dólares.
Não muito tempo atrás, tudo isso estava a ponto de desmoronar. A improvável transformação é obra do escritório do Historiador da Cidade, um vasto departamento estatal de arquitetos e urbanistas chefiado por Eusebio Leal Spengler desde 1981. Com um poder sem precedentes para um historiador da arquitetura, equivalente ao de um prefeito, ele ganhou aplausos da Unesco e de órgãos de preservação de todo o mundo pelo que conquistou aqui nos últimos 30 anos, contra todas as expectativas.

No início dos anos 1990, Leal convenceu Fidel Castro a montar uma empresa estatal de turismo, a Habaguanex, companhia encarregada de desenvolver hotéis, restaurantes e lojas. Crucialmente, ela usaria os lucros para restaurar os edifícios e as ruas abandonados de Havana, além de promover projetos sociais e instalações para a comunidade. Foi um modelo cauteloso de tática capitalista usada para fins socialistas, que viu o departamento de Leal canalizar mais de meio bilhão de dólares para a cidade antiga. Hoje, a companhia dirige um império crescente de 20 hotéis, 40 restaurantes e 50 bares e cafés, assim como dezenas de butiques de luxo.

segunda-feira, fevereiro 08, 2016

Mensagem do primo Antonio Eugênio


Primos,

No intermédio das mensagens do dia, fiz um provocação,no bom sentido, para esquentar o debate político. Acho, que no fundo todos nós gostamos uma vez que mantemos o respeito e não agressão às opiniões dos que participam e acompanham. Estendo-me um pouco mais ( aceitando a provocação do Renato) sobre a questão dos países no intrigado sistema político- ideológico mundial. Lembro o seguinte: o maior país democrático do mundo, os EU, adota o sistema capitalista da livre iniciativa e liberdade de expressão. O maior bloco socialista do mundo, a URSS, tornou-se um governo tirano com Stalin, causando assassinatos e prisões a quem divergia de seu sistema político-ideológico. Somente após1987, com a reforma ( Perestroika) e independências dos países da Europa oriental, puderam usufruir da liberdade. Após o término da 2a Guerra Mundial, os países livres passaram a temer a URSS. Os EU que saiam da guerra numa situação economicamente soberba, sem nunca seu território ter sido bombardeado, infelizmente foi tomado à época por um movimento militarista que tinha grande trânsito e influência política no Congresso americano, instalando dezenas de bases militares em torno do mundo. Esse fato criou e desenvolveu o grande interesse das indústrias armamentistas, persistindo até hoje, por conflitos fora do país, em nome da defesa de um mundo livre. Na economia, após o final da guerra em 1945, de bom aconteceu o desenvolvimento econômico dos países europeus e do Japão, e o surgimento dos Tigres Asiáticos ( esses com mão de obra barata e uma rígida disciplina e hierarquia religiosa adquirida através do budismo), causando o equilíbrio das forças econômicas mundial. A economia capitalista provocou no mundo inteiro o progresso de suas civilizações, principalmente em termos materiais e científico. A URSS até recentemente só tinha produzido o Sputinik. Tanto a URSS e, mais recentemente a China, aplicaram em sua economia socialista, dois instrumentos da econômicos capitalistas: a propriedade privada e a utilização de bolsas de valores em suas negociações. Somente a partir daí, houve progresso de suas economias. O sistema capitalista, além das forças econômicas de interesse armamentistas citadas, cometeu outros erros como o do capital financeiro que se encontra hoje em constante processo de regulamentação em busca do seu aperfeiçoamento. Às nações emergentes e em desenvolvimento, sem a pungência de suas economias,deveria adotar um sistema de economia mista liberal e política de estado, encontrando o tamanho do Estado ideal a ser utilizado, em função de suas naturezas, necessidades e características culturais do povo de cada nação, determinandoas proporções devidas entre os princípios do Estado de Direito e do Estado Social ( capitalismo x socialismo, ponderação do Noberto Baggio, do Caíque). Infelizmente, no Brasil atual, o Estado é incompetente para garantir os dois princípios tão importantes para uma democracia, Parece que estamos de acordo quando comungamos a não aceitação dos sistemas extremos dos regimes capitalismo ditatorial e socialismo ditatorial. Quem sabe um socialcapitalismo que alguns não acreditam. Ufa!

Abraço,

Antonio Eugênio.




Mensagem ao primo Antonio Eugênio




Antonio Eugênio,

Como não existe neutralidade em nenhuma produção de conhecimento, o seu texto não fugiu à regra e nem será o meu que fugirá. O que quero é fazer aqui um contraponto e propor sempre serenidade para saber olhar os dois lados, bom e ruim, das nações.

A URSS ficou satanizada pela propaganda pesada da guerra fria, sobretudo pelo período stalinista que durou 31 anos, de 1922, quando Lênin sofreu um derrame que o matou em 1924, até 1953 quando Stálin morreu. Só que o país socialista durou 74 anos, de 1917, quando foi invadido por 14 países hostis à revolução, até 1991. Então, se você fizer a diferença, 74-31= 43 anos, um período maior do que o período stalinista onde várias coisas boas aconteceram e bem que poderíamos ser mais gratos por elas:

1. a sua importante e dramática participação na 2a. guerra e na vitória sobre Hitler.
2. os direitos da mulher
3. a legislação trabalhista
4. o anticolonialialismo
5. a alfabetização universal e gratuita
6. a elevação de vida da classe trabalhadora
7. o desenvolvimento artístico de grande qualidade.

A perestroika e a glasnost de Gorbachov que tentava mostrar ser possível conciliar igualdade e liberdade individual foi solapada pelo ocidente dando força e apoio ao seu protegido, Boris Yeltsin, que deu no que deu: desmantelaram a URSS, grupos mafiosos tomaram o poder e a esculhambação reinou. A Rússia hoje retoma aos poucos a sua grandeza.

Os EUA entraram tardiamente na guerra, em 1941, mas só em 1943 foi que Roosevelt enviou um contingente mais expressivo de soldados norte-americanos para o Egito, onde venceram as tropas alemãs na Batalha de El Alamein. Outra importante participação dos EUA foi o desembarque na Normandia (França), que juntamente com os aliados venceram o exército alemão e a cidade de Paris voltou para o controle da França, antes dominada pelos alemães. Perderam 300 mil vidas, todos eram soldados, não havia civis. Foi o país que mais lucrou com a guerra.

Jamais devemos esquecer: URSS e EUA foram parceiros nesta guerra. A URSS por ter perdido 25 milhões de vidas de civis e soldados e mais a besteira de ter entrado em competição com o capitalismo, desperdiçando seu capital no orçamento militar, se enfraqueceu economicamente e acabou se desmantelando.

A nação mais rica do mundo, com muitas coisas para se elogiar, se divulga como a mais democrática do mundo, mas é onde acontecem os seguintes fatos, cito só esses para não ficar extensa e cansativa a lista:

1. 22% das crianças americanas vive abaixo do limiar da pobreza.
2. entre 1890 e 2012, os EUA invadiram ou bombardearam 149 países.
3. os EUA são o único país da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que não oferece qualquer tipo de subsídio de maternidade.
4. 125 norte-americanos morrem todos os dias por não poderem pagar qualquer tipo de plano de saúde.
5. os EUA foram fundados sobre o genocídio de 10 milhões de nativos. Só entre 1940 e 1980, 40% de todas as mulheres em reservas índias foram esterilizadas contra sua vontade pelo governo norte-americano.
 6. O preço médio de uma licenciatura numa universidade pública é 80 mil dólares.

György Lukács, um marxista húngaro, escreveu, em francês, sobre o socialismo: "charbons ardents d'un grand feu éteint" (carvões ardentes de um grande fogo apagado) porque ninguém vive sem uma utopia. O capitalismo é um sistema que se mostrou apto a gerar riqueza e - inapto a distribuí-la - pobreza. O nosso querido e insuspeito primo, o Itamaraty, o Pedra Rosa, o Pedrosa ficou pasmo ao saber que o 1% mais rico do mundo possui o equivalente ao que possui o restante 99%. Conciliar a igualdade com a liberdade individual, o sonho de Gorbachev na sua glasnost e perestroika, e o nosso também, não é fácil, sobretudo num país como o Brasil. Henri Dominique Lacordaire nos alerta: "Entre fortes e fracos, entre ricos e pobres, entre senhor e servo é a liberdade que oprime e a lei que liberta". É uma lição que fundamenta o nosso repúdio ao neoliberalismo econômico. Nossa Constituição dita o capitalismo como o modo de produção do país, pelo menos que a sua segunda vertente, a social democracia, seja a que prevaleça em nossas escolhas por ser a mais moderna e razoável.

Abraço,

Caíque.