segunda-feira, agosto 20, 2012

A Arte (hai-kai)

O artista insiste:
minha missão é inventar
o que não existe.

Dilacerante (hai-kai)

Indignada a lua
cheia de horror vela o sono
das crianças de rua

sábado, agosto 18, 2012

Poeminha erótico

Caíque Vieira



Venturoso o homem que os via
sob as castas vestes de outrora
e ao vê-los já se pressentia
os dotes da gentil senhora.





Quando se mostram insinuadas
em diáfanas sedas rasgadas
inflama em matizado facho
o coração do feliz macho.





Em trajetórias pendulares
seguem-te pupilas atentas
e sofregados olhares
que serenam quando te sentas





Por quais sendas anda a alma
do homem ao contemplá-los?
Busca o êxtase que a palma
da mão transmite ao tocá-los?





Fruto carmesim suculento
flor sedutora que atrai
o homem que em lúdico intento
sorve e em paz enfim se esvai.





segunda-feira, agosto 13, 2012

Gênese do hai-kai "Prazeres"

É um hai-kai que eu gosto muito. "Prazeres" é o seu título. Ali estão meus mais caros deleites que cultivo com dedicação há mais tempo e os novíssimos.

Sou capaz de ficar longos períodos sozinho, pensando ou apenas contemplando algo. Tenho esse traço de personalidade e dele, às vezes, sai um ato criativo. Ultimamente, tenho pensado em como acontece a gênese desse ato criativo e como é que ele vai se desenvolvendo.

Foi a partir da visão de uma foto das mãos de Bebo Valdez ao piano, exposta na revista Cubadebate. Ele, magistral pianista de jazz, cubano da velha guarda. Observei essa foto por vários minutos, me lembrando dele, já velhinho, fazendo um dueto com seu filho Chucho Valdez, outro gênio da arte. Tocavam uma belíssima canção cubana chamada La comparsa. Depois, a foto já me remetia às mãos do papai que também gostava de tocar seu pianinho.










Mais tarde, fizemos uma fotografia das minhas também ao piano que resultou assim:









Observava a foto longamente, queria escrever algo sobre ela, sobre o jazz.

Nesse tempo, comecei a degustar e apreciar cerveja, estimulado por uma saborosíssima que havíamos provado em Copenhagen. Não era a minha bebida predileta, mas depois dessa dinamarqueza passei a me interessar e pesquisar. Quanto mais degustava, mais eu ia constatando que as minhas preferidas eram as de trigo ou as strong ale. A memorável nórdica deveria ser de um desses tipos.

Desde a minha adolescência, ouvia, tocava e amava o jazz e seus personagens. Era meu prazer predileto e as duas palavras juntas - prazer e jazz - me chamavam a atenção pela abundância da letra z, marca do libertador dos oprimidos da América espanhola, Diego de la Vega, El Zorro, que alimentava a fantasia de minha infância. Hoje, o libertador real é o admirável cubano Fidel Castro cujas reflexões leio com renovado prazer.

Prazer... achar prazer em... comprazer. "Compraz" rima com "jazz". "O que me compraz", com cinco sílabas, daria um hai-kai. Imediatamente, associei também às cervejas que degustava e que me compraziam. Ato contínuo, como num impulso, fui à geladeira abrir uma cerveja de trigo geladinha. Assistia com êxtase meus ídolos cubanos. Bebo improvisava e Chucho segurava a base harmônica, ao mesmo tempo, eu apreciava as fotos.

Quando terminou a música, meio distraído, lí na garrafa a palavra alemã "weiss" que significa branca e se refere à cor da cerveja de trigo que também rima com "jazz" e "compraz", embora a estrutura do hai-kai não peça a rima no segundo verso de sete sílabas.

O hai-kai ficou então assim:

Prazeres

O que me compraz
cervejinha ale ou weiss
seu amor e jazz.

O amor inserido no poema é o da Gilda que é um prazer muito mais antigo, de 40 anos, tão antigo que, como dizia o Drummond, tem raízes fundas e, em matéria de beleza, já suplanta a natureza.

Fortaleza, 12 de agosto de 2012.

sexta-feira, agosto 10, 2012

Ídolos assassinados

É temeridade
se colocar a serviço
da humanidade?















Che Guevara

Pergunto aflito
ao vê-lo exibido morto
qual foi seu delito.

Foi idealizar
na Bolívia que devemos
unidos lutar?

Silvia Margarita Duzán

Pergunto aflito
ao vê-la ameaçada
qual foi seu delito

Foi tentar a paz
na Colômbia que há tempo
já sofre demais?

Jean Moulin

Pergunto aflito
ao vê-lo dilacerado
qual foi seu delito.

Foi ter resistido
na França hostil e sitiada
a um mundo falido?

Soledad Barrett Viedma

Pergunto aflito
ao ver seu rosto rasgado
qual foi seu delito.

Foi manter o ideal
no Uruguai sitiado a sua
Virtude fatal?

Patrice Lumumba

Pergunto aflito
ao vê-lo pisoteado
qual foi seu delito.

Foi ser demandado
no Congo a libertar seu
povo escravizado?

quinta-feira, agosto 09, 2012

Martin Luther King

Pergunto aflito
ao vê-lo tão odiado
qual foi seu delito.

Foi ter anunciado
na América racista
que havia sonhado?

Olga Benário

Pergunto aflito
ao vê-la grávida e presa
qual foi seu delito.

Foi ser comunista
no Brasil sua nova pátria
de elite fascista?

Salvador Allende


Pergunto aflito
ao vê-lo bombardeado
qual foi seu delito.

Foi dar à criança
no Chile o leite, o pão
e, ainda, a esperança?

terça-feira, agosto 07, 2012

Jesus Cristo

Pergunto aflito
ao vê-lo crucificado
qual foi seu delito.

Foi ter compaixão
na Palestina e olhar o outro
como a um irmão?

Che (hai-kai)

Foi sem vaidade
e elegante que serviu
à humanidade.

Che e Fidel (hai-kai)

Só a fraterna união
tem o poder de fazer
a revolução.











Mensalões, sonegadores e hipócritas

Os gestores do dinheiro ilegal sempre acabam irrigando o caixa 2 de partidos --seja em nome próprio, para comprar proteção, seja a mando das empresas para as quais trabalham.Nesse toma lá dá cá que rege as relações entre a plutocracia e  o poder, a democracia representativa se perde num corredor obscuro, onde jazem os reféns do financiamento privado das campanhas eleitorais. Há pouco, uma pesquisa norte-americana mostrou que os brasileiros tinham cerca de US$ 520 bi ( R$ 1 trilhão de reais) em paraísos fiscais. O estudo ,'The Price of Offshore Revisited', feito por um economista que já chefiou a consultoria McKinsey, cruzou dados do Banco de Compensações Internacionais,FMI, Banco Mundial e governos nacionais (portanto, está subestimado). Conclusão: desde os anos 1970 até 2010, os cidadãos mais ricos de 139 países aumentaram de US$ $ 7,3 trilhões para US$ 9,3 tri a "riqueza offshore; os depósitos de brasileiros formam o quarto maior volume do planeta nessa modalidade  de evasão financeira e fiscal. A desregulação financeira e o desmonte dos Estados nacionais pelo credo neoliberal --apoiado enfaticamente no Brasil pelo mesmo jornalismo que agora pede sangue ao STF-- lubrificou e potencializou essa dinâmica. Farelos da engrenagem calafetam o caixa 2 de campanhas eleitorais. A  hipocrisia da direita se esponja na quirera. Mas poupa o imenso rega-bofe dos apetites pantagrurélicos, diante dos quais o STF --vide episódio Daniel Dantas-- se inclina obsequioso.