Cinco tópicos econômicos de interesse da nação:
1. Evitar a recessão evocada pelo conservadorismo. Preservar o mercado de consumo de massa ampliado desde 2003 é crucial para se ter um trunfo na reordenação do crescimento. Dispor de um mercado interno em expansão é o principal diferencial do Brasil num mundo em crise.
A crise mundial é devida: a.) demanda rastejante; b.) baixa atividade produtiva.
2. Diagnóstico correto da inflação. Arrochar salário e crédito para derrubar a inflação é um erro.
A inflação de alimentos, bem como as pressões decorrentes do custo da energia, tem origem na seca, não na exacerbação da demanda. E os indicadores estão em queda.
3. Ajuste cambial possível. O dólar baixo que desequilibra a balança comercial reflete, em primeiro lugar, a fraca recuperação mundial e a inundação de liquidez nos mercados globais, que já ensaia novo ciclo de bolhas. É possível recuperar alguma margem competitiva com uma dose combinada de desvalorização cambial e redução do juro, a partir do próximo ano, quando a inflação climática perder seu ímpeto. Mas as projeções para o comércio mundial são pouco animadoras. As cotações das commodities, sobretudo grãos, segundo a FAO, tendem a recuar ainda mais nos próximos dois anos. Os superávits comerciais elevados da última década que ampliaram a margem de manobra do desenvolvimento brasileiro não devem se repetir. Daí a importância de se preservar o dinamismo interno como condição indispensável para reordenar o crescimento econômico.
4. Corte de juros em vez de arrocho fiscal. A despesa fiscal que pode ser contida é o gasto com o juro da dívida pública, que devora cerca de 5% do PIB ao ano. As demais despesas são incomprimíveis. Há espaço para cortar juros em linha com um recuo da inflação de alimentos. A relação dívida bruta / PIB permanece estável no Brasil desde 2004, em torno de 57%. Não se justifica que o país tenha uma das três maiores taxas de juros do planeta. Nos países desenvolvidos, a relação dívida bruta / PIB saltou de 80,4% para 108,5% desde 2004. A taxa de juro elevada impede operações de longo prazo: os bancos não emprestam para projetos de investimento de 20 e 30 anos. Criou-se um círculo de ferro: o desestímulo ao investimento produtivo serve, ao mesmo tempo, como incentivo à atividade rentista que por sua vez deixa o crescimento na dependência exclusiva do consumo. Quebrar esse torniquete requer quebrar o dogma conservador do juro alto.
5. Controle de capitais. As linhas de passagem para um corte sustentado dos juros incluem: a) salvaguarda contra fugas de capitais na forma de uma regra de ingresso que estabeleça uma permanência mínima no país; b) forte incentivo à produtividade industrial para reduzir o peso dos importados no consumo interno. Porém, sem ilusões: o Brasil não será capaz de suplantar a competitividade asiática em boa parte das linhas de consumo já abocanhadas pela oferta oriental; a ênfase das políticas de desenvolvimento industrial deve recair sobre setores nos quais o fôlego manufatureiro ainda resiste. O equilíbrio entre importações e contas externas terá que ser modulado com a maturidade das exportações do pré-sal; o forte incremento na industrialização de commodities e saltos de inserção em cadeias globais nas quais a competitividade brasileira é real – caso da aeronáutica, por exemplo, e também do setor de energia e serviços (grandes obras). Arrochar o mercado interno como forma de equilibrar a balança comercial, ao contrário, sepultaria de vez o atrativo ao investimento representado pela pujança da demanda popular. Sobretudo, porém, não teria nenhum efeito positivo sobre a relação de troca desfavorável, fruto de um horizonte de queda nos preços das commodities.
Nenhum comentário:
Postar um comentário